domingo, 20 de setembro de 2009

- e coisas remexendo no peito,
alguma parada pela garganta,
tentando escorrer de mim...





mas estou tranquila.
tentando a imprecepitada.

Tarde de domingo com o amigo Abreu..

"sem conseguir juntar os sons em palavras, como uma língua estrangeira, como uma língua molhada nervosa entrando rápida pelo mais secreto de mim para acordar alguma coisa que não devia acordar nunca, que não devia abrir os olhos nem sentir cheiros nem gostos nem tatos, uma coisa que deveria permanecer para sempre surda cega muda naquele mais de dentro de mim, como os reflexos escondidos, que nenhum ofuscamento se fizesse outra vez, porque devia ficar enjaulada amordaçada ali no fundo pantanoso de mim, feito bicho numa jaula fedida, entre grades e ferrugens quieta domada fera esquecida da própria ferocidade, para sempre e sempre assim.
Embora eu soubesse que, uma vez desperta, não voltaria a dormir.
[...]
Nada doía. Eu não sentia nada. Tocando o pulso com os dedos podia perceber as batidas do coração. O ar entrava e saía, lavando os pulmões. Por cima das árvores do parque ainda era possível ver algumas nuvens avermelhadas, o rosa virando roxo, depois cinza, até o azul mais escuro e o negro da noite. Vai chover amanhã, pensei, vai cair tanta e tanta chuva que será como se a cidade toda tomasse banho. As sarjetas, os bueiros, os esgotos levariam para o rio todo o pó, toda a lama, toda a merda de todas as ruas.
Queria dançar sobre os canteiros, cheio de
uma alegria tão maldita que os passantes jamais compreenderiam. Mas não sentia nada. Era assim, então. E ninguém me conhecia. "


[Caio Fernando em 'mel e girassóis' – conto: sargento Garcia
]
Eu olhava o meu Pai, ali, feliz de me ter por perto.
E eu sorria amiga para o amor vindo dele - mesmo tão ignorante de mim...

E acabam, de alguma forma morna e terna, perdoadas as incompanhias entre nós.


- vai ver que o doce da não-espera estima melhor.