domingo, 6 de setembro de 2009

Estar total ou parcialmente 'deslocado' em toda parte, não estar totalmente em lugar algum(ou seja, sem restrições e embargos, sem que alguns aspectos da pessoa 'se sobressaiam' e sejam vistos por outras como estranho), pode ser uma experiência desconfortável, por vezes perturbadora. Sempre há alguma coisa a explicar, desculpar, esconder ou, pelo contrário, corajosamente ostentar, negociar, oferecer e barganhar. Há diferenças a serem atenuadas ou desculpadas ou, pelo contrário, ressaltadas e tornadas mais claras.

As 'identidades' flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante pra defender as primeiras em relação às ultimas. Há uma ampla probabilidade de desentendimento, e o resultado da negociação permanece eternamente pendente.

Quanto mais praticamos e dominamos as difíceis habilidades necessárias para enfrentar essa condição reconhecidamente ambivalente, menos agudas e dolorosas as arestas ásperas parecem, menos grandiosos os desafios e menos irritantes os efeitos. Pode-se até começar a se sentir-se Chez Soi, 'em casa', em qualquer lugar _ mas o preço a ser pago é a aceitação de que em lugar algum se vai estar total e plenamente em casa.
[Pág 19, livro “Identidade” do sociólogo Zygmunt Bauman.]


Foi Denise quem me emprestou esse livro, acho que faz mais ou menos um ano.
Lembro que me surpreendi com a leitura. E me sentia vez ou outra girando..
- Girando como algum drink onde se põe o dedo ou inclina o copo, para uma mistura entre gelos e rodelas de limão, do subjetivo, sabe? Rá!
Me pretendi a ler outras obras do Bauman, mas acabei por não fazer até hoje, enfim..

e agora me deparei com essa anotação que transcrevi quando li.